Olho ao meu redor, tudo é claro, numa simplicidade amena
Risadas frenéticas ecoam desinibidas, onipresentes
Distancio-me de mim mesmo, tenho a visão plena
Meu sangue não pulsa, foge as leis vigentes
Violentando as leis da física me torno mais que eu
A compreensão ultrapassa o inintelígivel
A pluralidade torna-se singularmente visível
Não tenho mais medo, pois o eu agora é Deus
As palavras se perdem, o pensamento corre à frente
Acima da velocidade da luz, na sétima dimensão
Em total frenesi trabalha a minha mente
Sem vendas, tudo é como o apertar de botão
Porque vejo por sobre a abóbada celeste
Os que eram vários transformam-se em unidade
E choro ao ver meu povo tomado pela peste
A cegueira que não lhes deixa ver a verdade
Que não existe a vida, o tempo ou a morte
Que tudo são formas limitadas de concepção
Que o homem usa para ignorar o Forte
Mas o todo-poderoso sabe que não existe criação
Sabe que não existe destruição ou espírito
Porque vê que o todo é instantâneo e infinito
Que tudo já aconteceu, acontecerá e acontece
Mas diante de tal obviedade o homem estremece
Porque tem respostas para tudo que questionou
Quem sou, por que estou aqui, para onde vou?
És parte do Todo, estás aqui porque é tudo que existe
Não foste mandado por desígnio ou providência do Rei
Não vais a lugar algum porque isso é tudo que existe
Que fazer? Faze o que tu queres, pois há de ser tudo da lei
Davi de Castro Reis
(texto originalmente publicado no jornal "O Moita", em 1995, quando o autor tinha 15 anos)